As Três Mensagens Angélicas
L. James Gibson
O ano de 1844 foi um ano importante. Os mileritas experimentaram o Grande Desapontamento, levando a um completo re-estudo das profecias relacionadas ao segundo advento. A crescente compreensão da Bíblia que resultou daquele estudo levou ao estabelecimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Naquele mesmo ano, Charles Darwin completou um resumo de suas referências sobre a evolução através da seleção natural. Ele o chamou de um abstrato, mas era muito mais do que um livreto. Contudo, Darwin não publicou seu “abstrato” naquele ano. Em 1844 também, Robert Chambers publicou anonimamente o livro Vestiges of the Natural History of Creation. Esse livro especula abertamente sobre a possibilidade de uma mudança evolucionária em longos períodos de tempo. Foi dito que este livro causou maior impacto no público do que o livro de Darwin uns 15 anos depois. A reação do público foi tão intensa à obra de Chambers que Darwin segurou seu livro por mais 15 anos.
A ironia aqui é obvia: o nascimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com sua ênfase na criação bíblica em seis dias, coincidiu como a apresentação pública do pensamento evolucionário. Isto foi uma coincidência? Creio que não.
Os adventistas do sétimo dia se consideram comissionados a apresentar uma mensagem especial ao mundo, chamada “As Três Mensagens Angélicas” de Apocalipse 14:6-12. Nosso propósito aqui é explorar o significado dessas mensagens e sua relação com a doutrina da criação.
O Primeiro Anjo
O contexto de Apocalipse 14 indica um cenário escatológico, prensado entre a perseguição apresentada nos capítulos 12 e 13 e a “colheita” do final do capítulo 14. Os adventistas compreendem que as três mensagens angélicas de Apocalipse 14 representam o movimento final preparando o mundo para a segunda vinda de Cristo. Os Adventistas do Sétimo Dia esperam desempenhar uma função importante na proclamação dessas mensagens. Consequentemente, precisamos compreender o que elas dizem.
Essas três mensagens estão em sequência, pois entre elas, existem elos subjacentes. Um elo é a doutrina da criação conforme foi registrada por Moisés; outro elo é a justificação pela fé. A igreja não pode alcançar êxito na pregação das três mensagens angélicas sem fé no relato bíblico da criação, que é fundamental para essas mensagens e indispensável para a nossa missão.
O primeiro anjo, (Ap 14:6) é descrito como tendo o “evangelho eterno”. O evangelho é as boas novas da salvação, que é necessário devido à queda do homem. A história da criação forma a base para compreender essa queda: “Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados” (Rm 2:12, cf 1 Tm 2:13-14).
A mensagem do primeiro anjo consiste em duas partes. A primeira parte é (parafraseada): “Temei a Deus e dai-lhe glória, por causa do julgamento.” Essa mensagem foi enfatizada no início da história do adventismo, nas doutrinas do juízo investigativo e executivo. A segunda parte é (novamente parafraseada): “Adorai Aquele que criou.” Na escrita hebraica, a mesma idéia era frequentemente expressa duas vezes, usando diferentes palavras. Este é um modo de enfatizar um ponto. A primeira mensagem angélica pode ser tratada com tal paralelismo:
Temei a Deus e dai-lhe glória, por causa do julgamento,
Adorai a Deus por causa da criação.
Temer a Deus é reverenciá-Lo, e implica a adoração:
“Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor?
Pois só tu és santo;
por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti,
porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos.”
Apocalipse 15:4
O julgamento é um dos atos de justiça de Deus. Para muitos, a ênfase no julgamento não parece ser boas-novas. Porque deveríamos considerar a vinda do julgamento como “boas novas” (evangelho)? E qual é o relacionamento da criação e das boas novas? Vamos considerar estas perguntas ao examinarmos o paralelismo no texto.
“Temer” a Deus significa dar-Lhe reverência, ou adorá-Lo. Esta é a primeira parte do paralelismo. Deus é digno de adoração porque Ele é tanto Criador como Juiz. “Tu és digno, Senhor e Deus nosso,… porque todas as coisas tu criaste….” (Ap 4:11). Ser o Criador demonstra a autoridade de Deus e dá a Ele o direito (responsabilidade?) de julgar.
Qual é o paralelismo entre julgamento e criação? Quem é o Criador? Quem é nosso Juiz? Foi Jesus quem nos criou, e quem estará conosco também no julgamento. As boas novas (evangelho) é que a criação e a redenção estão unidas em Jesus Cristo. Jesus é o nosso Criador (João 1:3) bem como nosso advogado no julgamento (1 João 2:1). Deus tanto nos criou como nos salvou através de Jesus (Cl 1:13-17). Devido a este relacionamento, o julgamento é boas novas para o Cristão.
Apesar de ser muito defendido pela igreja, o aspecto referente à criação nas três mensagens passou a receber a mesma atenção dada ao conceito do julgamento, apenas no início da história da nossa igreja. Havia menos necessidade de enfatizar Deus como Criador porque virtualmente todos os cristãos aceitavam o relato bíblico da criação, o que agora já não é uma realidade.
A história bíblica da criação é que o ser humano foi criado perfeito, à imagem de Deus. Devido à sua própria escolha errônea, caiu em pecado. Deus não poderia simplesmente desculpar seu pecado e permanecer justo, então, o próprio Deus, na pessoa de Jesus Cristo, veio a terra morrer em nosso lugar. Assim, Deus poderia ser justo e justificador de todo aquele que crê (Rm. 3:26). Isto significa que a salvação vem pela graça. (Ef 2:8).
O julgamento da humanidade está intimamente relacionado com a história da criação. Nossa responsabilidade é baseada no fato de que na criação os ser humano era perfeito. Sem a queda da perfeição, não há responsabilidade para com Deus pelo pecado, e necessidade de um Salvador. O julgamento incluirá responsabilidade final pela condição do mundo (Ap 11:18), uma responsabilidade dada na criação (Gn 1:28). Os criacionistas devem ser bons mordomos dos recursos da terra.
O Segundo Anjo
O segundo anjo declara (Ap 14:8) que “Babilônia caiu“. Por que a segunda mensagem vem somente depois da primeira? Poderia ser que a rejeição da primeira mensagem fosse o passo final na queda de Babilônia? Babilônia representa religiões mundiais caídas, inclusive igrejas na Cristandade que caíram para longe de Cristo. A igreja é impura. A fornicação implica que algo está tomando o lugar de Cristo. A Bíblia frequentemente retrata o relacionamento de Cristo e da igreja como um casamento (cf Ap 19:6-8, as bodas do Cordeiro). O esposo (Cristo) é identificado como o Criador em Isaías 54:5. Este texto sugere que a substituição com outro “criador” seria fornicação. Qualquer igreja que fez tal escolha caiu. A mensagem do segundo anjo pode ser considerada como uma resposta à reação do mundo cristão à mensagem do primeiro anjo em relação à criação e ao julgamento.
Na história bíblica da criação, Adão e Eva foram criados perfeitos. Sua queda introduziu pecado e morte ao mundo. Jesus, como Criador e Juiz, ofereceu a Si mesmo como sacrifício substituto por nossa salvação. A salvação, portanto, é puramente uma questão de graça; deste modo, podemos apenas aceitá-la como um dom, ou rejeitá-la.
E quanto às outras histórias da criação? Alguns propuseram que como raça, nós estamos melhorando através da evolução. Não existiu Adão e Eva, nem queda, nem morte substituta. Jesus veio para a terra apenas para nos mostrar como viver. Se formos impressionados por Sua vida, se pudermos imitá-Lo, e se nos esforçarmos o suficiente, poderemos nos qualificar para a salvação. Jesus não tomou nosso lugar com Sua morte, mas nos deu um exemplo de como alcançarmos salvação.
A Bíblia tem más notícias quanto a este tipo de evangelho: não importa quanto você tem se esforçado, não importa quanto a sua vida se assemelha à de Jesus, isto não é importante. O tipo de perfeição, não é bom o suficiente! Não há como ganhar a nossa própria salvação. Não fazemos boas obras para sermos salvos, mas porque já estamos salvos. A Babilônia é baseada na justificação pela fé. O Céu é somente um dom da graça.
O Terceiro Anjo
A mensagem do terceiro anjo (Ap 14:9-12) é uma advertência: “Não adore a besta e ou receba sua imagem.” Aqueles que desconsiderarem essa advertência enfrentarão julgamento e punição. Note a palavra “adoração”, novamente ligada ao julgamento. Adorar a besta em lugar de Deus é fornicação espiritual. A marca da besta é um sinal de fornicação e queda espiritual. Essa queda vem como resultado da rejeição da mensagem do terceiro anjo: adorar a Deus o Criador, e aceitar Sua oferta de lhe declarar “não culpado” no julgamento. Aparentemente, os que rejeitam a mensagem do primeiro anjo se unirão para “marcar” os que discordam deles. Eles vão até mesmo valer-se de força para prevenir qualquer pessoa de aceitar a mensagem dos três anjos.
Compreendemos que a adoração da besta e a recepção de sua marca envolverão controvérsia com o sábado. A observância do sábado está baseada no relato bíblico da criação em seis dias (Ex 20:11). Guardando o sábado, testemunhamos e evidenciamos nossa aceitação da primeira mensagem angélica: adorar o Criador. Adorando no sábado testemunhamos que aceitamos a Bíblia como autoridade máxima. Adorando no sábado testificamos que aceitamos a salvação somente pela graça, baseada apenas nos méritos do sacrifício substituto de Jesus.
Desacreditando a história da criação seria remover a base para a observância do sábado, e muito mais. Que melhor modo de destruir o sábado, o sétimo dia, do que desacreditando da criação em seis dias, a base de sua observância? E qual é o propósito do julgamento se não existiu a queda no pecado? Sem a doutrina da criação em seis dias, as três mensagens angélicas perdem seu significado.
A Três Mensagens Angélicas: Justificação pela Fé
A mensagem unificada dos três anjos é a justificação pela fé. Justificação vem pela fé na morte substituta de Jesus Cristo. Essa morte é necessária porque Deus, em Sua justiça, não poderia desculpar a queda de nossos primeiros pais, Adão e Eva. A queda de Adão e Eva foi o resultado de sua própria escolha de crer na evidência de seus sentidos em vez de crer na palavra de Deus. O termo “queda” implica um estado previamente melhor. Adão e Eva não foram criados através de algum processo de melhora gradual, mas foram criados em um estado de perfeição impecável. A história da criação é encontrada em Gênesis 1.
Alguns nos incentivam a aceitar outra história da criação, uma que esteja mais de acordo com as idéias de importantes cientistas e teólogos. É impopular aceitar as palavras de um livro antigo, em vez das últimas idéias da ciência. Devemos dizer o seguinte aos que nos incentivam a abandonar a nossa fé na criação de Gênesis, em seis dias: Conta-me a história de Cristo e Sua salvação. Tem a ciência uma história que inclui Jesus e a salvação? Apenas a Bíblia mostra o caminho para a salvação e a base para este caminho.
As três mensagens angélicas revelam Jesus como Criador, Advogado no julgamento, e Redentor. É por isso que o relato da criação de Gênesis é tão importante. Gênesis apresenta o mais detalhado relato da criação do mundo encontrado na Bíblia. A história da criação é a base para a adoração a Deus, a razão de Sua autoridade no julgamento, e a questão controversa por trás da marca da besta. O registro da criação em Gênesis é um tema unificador das três mensagens angélicas.
Em virtude do significado da criação e do dilúvio para as três mensagens angélicas no final dos tempos, é sensato considerar a advertência de Pedro quanto aos escarnecedores nos últimos dias: “Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios” (2 Pe 3:3-7).
De acordo com Pedro, os escarnecedores negarão tanto a criação como o dilúvio. Isto está acontecendo agora, não apenas no mundo, mas até mesmo dentro da igreja. As três mensagens angélicas devem ser proclamadas, até mesmo em tal atmosfera de cepticismo. Quando o mundo inteiro for alcançado, virá o fim. E então o Criador novamente exercerá Seu poder na criação, desta vez para restaurar o que foi perdido por causa do pecado. “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pe 3:13).