Ele foi a Nazaré
por Brian Jones
Nazaré, por volta do ano 15 d.C.
Vemos uma carpintaria perto de uma estrada sinuosa e poeirenta, nas imediações da cidade – uma carpintaria que passa a semana inteira atarefada na bem-ordenada e eficiente produção de arados, jugos, mesas, cadeiras e outros artigos de madeira para uso no campo e no lar. Embora situada em um bairro pobre, é sem dúvida a melhor carpintaria em toda a Palestina, pois Aquele que arquitetou e formou o Universo trabalha ali, ainda que incógnito, no momento. O ritmo do trabalho raramente diminui. Do primeiro dia da semana em diante, clientes são vistos entrando e saindo. Para seu sustento, muitos deles dependem do conserto imediato de seus implementos agrícolas ou da rápida produção de novos. Freqüentemente a noite chega antes de ouvir-se o último ruído do serrote, do martelo e da plaina, naquela humilde carpintaria de Nazaré.
Mas o que vemos no sexto dia da semana? O trabalho se encerra ao meio-dia. A carpintaria é varrida e limpada cuidadosamente; todas as ferramentas são colocadas em seu devido lugar. Nas primeiras horas da tarde, a carpintaria já está vazia e quieta, pois o sábado se aproxima e é dia de preparação. A família de José trabalha alegre e diligentemente para preparar sua casa para o santo dia de Deus, que é sempre bem-vindo. Avançando serenamente rumo ao horizonte, o sol lança seus raios dourados em exuberante profusão sobre verdes colinas e vales. As sombras aumentam à medida que o dia escurece em purpúreo crepúsculo. Durante a tarde, as ruas esvaziaram-se lentamente. Os pastores e agricultores retornam mais cedo do campo para casa. Até as crianças param de brincar bem antes do pôr-do-sol. O comovente som do shofar* de chifre de carneiro penetra o tranqüilo ar vespertino para anunciar a chegada das horas sagradas. Pouco depois, ouvem-se melodias em todos os lares. De maneira cativante, saudosos cânticos de Sião, anelantes pelo Paraíso, dão ao sábado as boas-vindas. As lâmpadas são acesas e o brilho da santa celebração, colorido com uma vida inteira de sagradas recordações, é refletido em todos os olhares.
A conversa gira em torno de temas celestiais durante a singela refeição familiar. Tanto ricos como pobres estão livres de seu trabalho semanal para mais um abençoado dia de sábado. Deus Se aproxima amorosamente para estar em comunhão com Seus filhos neste sagrado tabernáculo do tempo. A noite dissolve o crepúsculo e todos vão tranqüilamente dormir, pois os problemas da semana foram esquecidos e todos os fardos lançados sobre Aquele que cuida dos que são Seus. (Ver Salmo 55:22.)
Na manhã seguinte, a carpintaria continua fechada. Nenhum freguês se aproxima da porta e nem sequer a olha de passagem, pois todos os habitantes da cidade, saindo de mansões e cabanas, se dirigem a pé à sinagoga. Jesus e Sua família também vão.
Nazaré, 27 d.C.
Anos mais tarde, um jovem de face bronzeada, semblante sereno e familiar, une-se a um crescente grupo de adoradores em uma estrada freqüentemente trilhada. “Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o Seu costume, e levantou-Se para ler. Então, Lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo que Me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-Me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor. … Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir. Todos Lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que Lhe saíam dos lábios.” Lucas 4:16-19, 21 e 22.
O Senhor do sábado, cheio de graça e de verdade, viera para anunciar o definitivo repouso sabático, para restauração do ser humano, por meio do evangelho eterno. Em Sua vida e ensinos Ele exaltou e honrou a lei, guardando irrepreensivelmente todos os mandamentos de Seu Pai; e por meio de Seu sacrifício fez com que Sua justiça jorre como um poderoso manancial do Calvário a todo coração que O aceite. Deixou também o legado do Seu Espírito para conduzir Seus seguidores em toda a verdade, e declarou: “Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também.” João 13:15. Cristo demonstrou como santificar o sábado, sinal de Seu poder criador. Ele ensinou a Seus discípulos: “Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos.” João 14:15. Cristo guardou o sábado tanto na vida como na morte. (Ver Lucas 23:50-56.) “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.” Hebreus 4:9.
*O shofar é uma corneta de chifre de carneiro que era tocada pelos sacerdotes judeus. É usada ainda hoje nas sinagogas ortodoxas.